CULTURA - Apresentação especial marca os 104 anos da Nau Catarineta em Cabedelo



Nau Catarineta (Foto: Michael Sampaio).
O grupo folclórico da Nau Catarineta (Barca de Cabedelo) comemora, neste mês de dezembro, 104 anos de existência. E para marcar a data, a Fundação Fortaleza de Santa Catarina (FFSC) e a Associação Artístico-Cultural de Cabedelo (AACC) promoveram, na última sexta-feira (16), uma apresentação comemorativa do grupo, um dos mais característicos e importantes da cultura cabedelense.

O evento aconteceu na Fortaleza de Santa Catarina e contou com o apoio logístico da Prefeitura Municipal de Cabedelo (PMC), por meio das Secretarias de Comunicação (Secom) e Cultura (Secult).

A Nau Catarineta possui uma identificação muito forte com o povo cabedelense. É o que o explica o mestre cultural e pesquisador Tadeu Patrício, coordenador do grupo há 18 anos e organizador da festa.

"Essa data é muito importante para Cabedelo, porque estamos comemorando algo que está enraizado culturalmente com a nossa cidade. Não é todo grupo que chega a comemorar 104 anos, e nós conseguimos isso. Para mantermos viva essa tradição é necessário muito diálogo com a sociedade e força de vontade para estimular os nossos músicos e brincantes. Atualmente, a juventude, em sua maioria, não valoriza esse tipo de atividade, por isso buscamos estímulo na comunidade que nos prestigia, além do apoio do poder público", destacou Tadeu, que também é brincante da Nau, interpretando várias personagens, dentre elas, o histórico comandante espanhol Rodolfo de Mascarenhas.

A manifestação chegou na Paraíba em 1903, e em Cabedelo em 1910. Os primeiros grupos que surgiram na cidade foram entre 1912 e 1913, de acordo com o folclorista Hermes do Nascimento. Os locais em Cabedelo onde esses grupos se manifestavam eram no final da Rua Solon de Lucena com a Praia de Ponta de Matos e o bairro de Camalaú. Eram formados por pescadores, artesões e marítimos. Com a construção do Porto de Cabedelo, novos componentes foram envolvidos ligados aos sindicatos portuários.

Formação - A Barca de Cabedelo, atualmente, conta com 40 integrantes, entre músicos e brincantes que interpretam várias personagens, como Mestre, Contramestre, Guarda-marinha, Piloto, Doutor, Dom João IV, Calafate, Calafatinho, Capelão, Ração, Vassoura, dentre outros. O funcionário público Tota Total tem 53 anos, e é brincante da Nau há 14 anos, interpretando a personagem cômica Ração. 

"Esse grupo é maravilhoso, tanto para os brincantes como para o povo de Cabedelo. Nossa cidade deve se orgulhar da Nau, principalmente quando a representamos em outras cidades". 

O brincante Josimar de Souza, que integra a Nau há 4 anos, ressaltou a importância da participação dos jovens no movimento cultural.

"Essa representação é vital para a cultura do nosso município. Nós, jovens, devemos manter essa tradição, pois já existem poucos grupos folclóricos na nossa cidade e, dentre eles, a Nau se destaca como o mais tradicional. É preciso que haja sempre investimento para que a nossa cultura popular seja mais valorizada". 

Comprovando a ligação que a Nau tem com os cabedelenses, a aposentada Rejane Viana tem o prazer de acompanhar as apresentações. Na ocasião, ela comentou o principal motivo. 

"A Nau representa minhas origens. Representa nosso Porto, nossa Fortaleza, nossos marítimos, nossa história... Aprendi a gostar desse folguedo, por intermédio do meu pai, que sempre me levava pra ir assistir às apresentações e, assim, aprendi quase todas as músicas". 

Histórico e identificação com Cabedelo - A Nau Catarineta é uma manifestação popular anônima. Não se tem dados precisos sobre sua criação. Sabe-se apenas que surgiu em Portugal, no século XVI, a partir de um romance denominada Nau Catrineta. Este folguedo popular chegou ao Brasil no século XVIII e se desenvolveu espontaneamente com características bem definidas em narrações de episódios marítimos vividos pelos nossos irmãos lusitanos.

Ao longo dos séculos, sofreu alterações sem perder a sua característica náutica. Em algumas das regiões do Brasil é conhecida de forma distinta. Na Região Sul, como Fandango ou Marujada do Cruzeiro do Sul; na Região Sudeste, como Chegança ou Chegança dos Mouros; na Região Nordeste, como Nau Catarineta (em Pernambuco, Paraíba e Ceará), Fandango e Chegança (no Rio Grande do Norte). 

A Nau Consiste numa dança folclórica dividida em (quatro) jornadas. Cada uma delas é a dramatização musical de uma aventura náutica representando as conquistas dos navegadores portugueses no novo mundo, incluindo também a Costa da África e a Índia.  O bailado dramático, de inspiração marítima, é coreografado pelos brincantes, de forma que suas danças também simulem os movimentos do balanço do mar, ora agitado, ora em calmarias ou maretas.

No dia 19 de agosto de 2006, na Fortaleza de Santa Catarina, o grupo realizou um grande sonho: lançou o seu primeiro CD, intitulado Cânticos da Nau Catarineta - Volumes 1 & 2, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, muito conhecida como Lei Padre Alfredo Barbosa. Atualmente, o grupo está iniciando um projeto para a gravação do DVD na tentativa de eternizar todo trabalho que é desenvolvido pelo grupo. 


Secom Cabedelo

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