Trabalhar no momento certo - Jovens adiam entrada no mercado de trabalho em busca de um maior período de qualificação.



FOCO: Especialista Maria da Penha diz que é preciso ter em mente o que quer
fazer antes de iniciar uma pós. - Foto: Francisco França.
 
Cada vez mais, jovens adiam a entrada no mercado de trabalho e, consequentemente, a saída da casa dos pais. Isso, além de diminuir a taxa de desemprego, já que o número de pessoas procurando emprego é menor (em 2013, o desemprego no país caiu a 5,4% e foi a menor em 11 anos), também faz com que, a longo prazo, o mercado de trabalho conte com profissionais ainda mais qualificados do ponto de vista teórico.

Por outro lado, a decisão desses jovens também traz outras consequências: os pais, por exemplo, precisam bancar por mais tempo os estudos dos filhos e, também, pode fazer com esses profissionais fiquem muito qualificados teoricamente e desenvolvam pouco outras competências exigidas pelas empresas, como proatividade e capacidade de lidar com situações adversas, o que seria alcançado somente através da experiência na prática.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2012) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, 11,6% da população entre 20 e 24 anos faziam parte da chamada "população ocupada"; já em 2012, esse percentual passou para 11,3%. Por sua vez, o percentual de jovens ocupados entre 25 e 29 anos era de 13,3% em 2011 e, em 2012, passou para 12,9%.

Para a especialista em mercado de trabalho Maria da Penha Silva dos Santos, é necessário ter em mente, ao resolver partir para uma pós-graduação, qual caminho se deseja seguir. "Esse caminho é bastante favorável para carreiras na academia. Para o mundo corporativo, porém, é visualizado como muita teoria e pouca prática. Ele é um profissional intelectualmente preparado, mas no dia a dia das organizações elas buscam além do intelecto, mais técnicos, mais habilidosos e com bastante experiência no negócio", explica.

Segundo ela, outro ponto que merece atenção é que, muitas vezes, ao sair da carreira acadêmica e partir para o mercado de trabalho o jovem acredita que, por ter passado tantos anos estudando, é merecedor de um emprego ideal com o salário ideal, o que nem sempre acontece.

"Ele precisa ter em mente, também, que o mercado exige atitude, maturidade profissional, proatividade e capacidade de lidar com situações adversas", explica.

"Por essa falta de maturidade, muitas vezes esses jovens ficam pulando de empresas e sempre recomeçando algo. Esse perfil é muito comum nos dias de hoje", complementa.

Só a formação acadêmica, portanto, não é suficiente: é preciso estar de olho no desenvolvimento das competências que o mercado exige e, acima de tudo, ter a humildade de reconhecer que não é porque se passou anos estudando que se detém todo o conhecimento possível.

CARREIRAS SÃO COMPLEMENTARES

Para a jornalista Anne Nascimento, por exemplo, a decisão de seguir a carreira acadêmica antes de entrar no mercado de trabalho foi difícil mas, hoje, parece ser o caminho certo. "A sensação de compreender algo e, em seguida, poder transmitir isso a alguém me deixa feliz e me estimula. Foi assim que eu decidi que o caminho era esse mesmo: partir pra uma pós-graduação, me qualificar e, depois, ingressar no mercado de trabalho", conta. Hoje, ela se prepara para a prova de seleção do Mestrado, que irá ocorrer no fim do ano.

Embora pretenda continuar dentro da universidade após o Mestrado, ou seja, atuando como professora, ela não exclui outras possibilidades de, por exemplo, atuar em uma empresa futuramente, dando sua contribuição. "Experiências fora da universidade são enriquecedoras para quem pretende ensinar", diz.

A decisão de Anne, no entanto, não ocorreu senão depois de se decepcionar com o mercado de trabalho. E essa decepção foi, justamente, devido à distância que existe entre prática e teoria.

"Assim como em todas as outras profissões, existe uma diferença entre aquilo que se aprende na teoria e o que se aplica na prática. Algumas coisas são comuns, já que é preciso adaptar os conceitos à realidade do mercado de trabalho; outras, entretanto, ferem os princípios da profissão e isso, de fato, além de entristecer, decepciona", comenta.

Essa decepção, no entanto, não fez com que ela deixasse de querer dar sua contribuição ao mercado de trabalho. Seus planos, hoje, são, ao entrar no Mestrado, aliar as pesquisas desenvolvidas na universidade a algo que seja possível de aplicar na prática e buscar outras formas de se aperfeiçoar profissionalmente, fazendo, assim, com que não só ela tenha ganhos, mas, também, sua profissão. "Quero contribuir para que essa distância entre teoria e prática diminuam, formando, futuramente, melhor os profissionais", explica.

Já a professora de Química Andréa Suame, que já tem o Mestrado, hoje divide seu tempo entre o Doutorado e o exercício de lecionar em uma escola particular da capital. "É bastante pesado. A dinâmica de sala de aula é completamente diferente. Todos os dias, há uma coisa nova. Mas foi exatamente por isso que eu decidi ir para a prática", conta Andréa.

Segundo ela, a vontade de seguir a carreira acadêmica se deu, inicialmente, devido a seu interesse em ser professora do ensino superior. Por isso, assim que terminou a graduação, seguiu para o Mestrado e, em seguida, deu início ao Doutorado. Com tudo traçado, ela pretendia, ao finalizar o doutorado, fazer o concurso para algum instituto federal. Ainda durante sua trajetória para ser mestre, porém, sentiu a necessidade de se qualificar ainda mais: na prática.

"Sempre existe o medo. Porque a gente estuda, estuda, mas também existem outras pessoas que estão na mesma situação.

São duas turmas de doutores em Química que se formam todo ano aqui e vão para o mercado de trabalho. Eu sabia que precisava de algo a mais", explica. Hoje, com a prática em sala de aula, ela já se sente um pouco mais confiante. "Ainda não me sinto 100% preparada, mas acredito que tenho acumulado conhecimento e, quando chegar a minha hora, vai dar certo", pontua.

ESCOLHER CONCURSO PÚBLICO ALONGA TEMPO DE MORADIA COM OS PAIS

A concurseira Talitha Barbosa, por exemplo, resolveu, ao sair da graduação, focar nos estudos para concursos das Forças Armadas como o da Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx) e o do Quadro Técnico da Marinha. "Como eu cursei a graduação em um Estado e me mudei logo em seguida, acabei perdendo todos os meus contatos profissionais e propostas de emprego. Na falta de quem me indicasse, foquei nos concursos", diz ela. Talitha é graduada em Comunicação Social.

Decidida, então, a entrar de vez na vida de 'concurseira', passou a ler editais, imprimir provas de concursos anteriores e levantar a bibliografia recomendada. "Eu dei sorte porque, mesmo tendo começado sozinha, o concurso que eu escolhi dava a bibliografia no edital, então mesmo sem ajuda eu sabia onde buscar aquelas informações", relatou. Hoje, faz cerca de um ano que estuda para concursos e, mesmo que no início tenha resolvido focar apenas nos militares, já abriu seu leque e se inscreve, também, para concursos de outros órgãos. "Eu pretendo continuar estudando até passar. O limite é a aprovação", garante.

Esse caminho, no entanto, não é um caminho fácil, como muitos pensam. Além da disciplina que é exigida nos estudos, o candidato precisa, também, aprender a lidar com o fato de depender financeiramente dos pais mesmo adultos, principalmente se for o caso de já ter tido a experiência de ganhar seu próprio salário através de estágios feitos durante a graduação.

Fora isso, há, também, outros pontos negativos: a compreensão da família, por exemplo, nem sempre ocorre como desejado.

Muitas vezes, ficar em casa estudando é visto como perda de tempo, enquanto se podia estar trabalhando e garantindo o seu próprio salário. "É preciso romper paradigmas de que você é um vagabundo, ensinando a família a respeitar seu tempo de estudos sem interromper por besteiras, por exemplo", complementa Talitha.

De acordo com a especialista em mercado de trabalho Maria da Penha Silva dos Santos, a orientação através do diálogo é o melhor caminho para definição da escolha real do que o filho deseja fazer para o seu futuro. Fora isso, os pais devem sempre suscitar o comportamento autogerenciável. "Sem dúvida, esse será o maior patrimônio que os pais poderão construir junto com os filhos", pontua.

Por Rafaela Gambarra


Fonte: Jornal da Paraíba


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